Memórias de uma corredora
12/11/2011
Serra do Rio do Rastro SC
Hoje relembrei dos meus tempos de
infância ao correr por uma estrada chamada Rota do Chá aqui em Registro. Quando
ia passar as férias na casa dos meus avós em Rio Preto RJ, naquele tempo férias
eram 3 meses (tudo de bom)! Achava fantástico atravessar a ponte e já estávamos
no Estado de Minas. Como ônibus eram em horários esporádicos, muitas das vezes
íamos caminhando sem fim para fazenda da Glória, meus avós eram colonos.
Chegamos em alguns momentos caminhar a noite, nesta época eu devia ter uns 9
anos e lembro-me bem de nossas andanças. Quando tínhamos sorte, conseguíamos
carona no caminhão do leite ou com uma santa alma que passava por lá.
Caminhávamos entre 10 e 15km, sinceramente não lembro-me da distância exata,
mas para mim era um caminhar sem fim.
Pois bem, hoje eu e Marcio quando
saímos para correr pedi que ele fizesse o roteiro, normalmente sou eu quem
faço. Para minha felicidade ele indicou a “Rota do Chá” (a tempos queria
conhecer), pela hora não era o recomendável,
mas o extinto de aventura e descobrir o novo foi mais forte.
Diferente de correr na cidade,
esta estrada não tem iluminação pública, é uma estrada aberta ao meio de uma
mata. Não poderíamos demorar, logo escureceria já eram cerca de 19:30h. No
entanto, a adrenalina de correr era mais importante neste momento e foi com
este ímpeto que seguimos observando a natureza em silêncio. Algumas poucas
casas pela estrada, talvez umas quatro, encontramos algumas pessoas, dentre
elas três crianças que nos olharam assustadas; devem ter pensado: “nossa quem
são esses”? Mas não deixaram de nos esboçar um belo sorriso com olhos
esbugalhados. Um rapaz correndo, afoito para chegar em casa após um dia de trabalho.
Entre esse silêncio, de repente ouvimos uma respiração, olhamos para trás e
avistamos um corredor, corredor mesmo. Um senhor de mais ou menos 60 anos,
super bem disposto, passou por nós com velocidade de 30 anos e nós ficamos ali
nos entreolhando sorrindo e pensado...”caramba que disposição”. Claro, para não
ficar por menos fiz o comentário...”é para isso que eu corro, para chegar aos
60 anos com esse pique”! Sorrimos!
Sabíamos que esta rota ia dar em
um bairro, mas desconhecíamos. Ele nos informou que chegaríamos no bairro
Agrochá e faltavam cerca de 1km e meio. Já tínhamos corrido uns 8km (40min) e
pensamos por que não ir um pouco mais adiante.
Chegando a um cruzamento, pedimos informação a um senhor, o que não nos ajudou muito. Não sabia nos
informar com precisão quantos km teríamos que correr para chegar a estrada de
asfalto. A vantagem é que pegaríamos a iluminação da estrada. Neste momento, o
anoitecer chegava e o bom senso dizia VOLTEM.
Optamos em retornar pelo mesmo trajeto. Que aventura de verdade, o suor
escorrendo e os borrachudos atacando, além dos mosquitinhos infernais entrando
no olho. Poderíamos abaixar a cabeça para que a aba do boné nos ajudasse, no
entanto não enxergávamos aonde pisávamos. Escolhas.
A noite adentrando pela estrada/mata,
a única iluminação era dos vaga lumes que me pareciam mais um farol de
bicicleta pelo tamanho. Lembramos dos tempos de infância que pegávamos potes de
vidro para pegar os vaga lumes, que delícia! Quer dizer era um tempo muito bom,
porque não cheguei a comê-los.
Só ouvíamos nossas respirações
ofegantes, o receio da escuridão e o isolamento tornou a volta mais rápida,
cerca de cinco minutos. Víamos o clarão da estrada, mas não enxergávamos os
buracos. Só avistamos algumas (coisas) escuras no caminho, mas não
identificávamos se era galhos ou animais, nesse instante o receio já assombrava
a mente.
Quando finalmente chegamos
próximo a “civilização”, tomamos um fôlego, rimos e agradecemos pela vida!
Quando corremos a mente divaga,
pensamos em tantas coisas: na respiração, na pisada, na dificuldade, na próxima
subida, em como esta difícil ou fácil hoje ou mesmo naquela água de coco e
melancia que nos aguarda em casa. Pode ser também naquele copo de chopp super
gelado, naquela pizza, nessa hora você sente até o cheiro. Como é bom correr,
me permite um pouco disso e muito mais.
Joana D`Arc corredora há 8 anos.